"DILEXIT NOS" DO SANTO PADRE FRANCISCO, CARTA ENCÍCLICA
SOBRE O AMOR HUMANO E DIVINO DO CORAÇÃO DE JESUS (Dado em Roma, junto de São Pedro, a 24 de outubro do ano 2024)
“Francisco publica a quarta encíclica de seu pontificado num dos momentos mais dramáticos para a humanidade. Guerras corrosivas, desequilíbrios sociais e económicos, consumismo desenfreado, novas tecnologias que ameaçam desfigurar a essência do ser humano marcam a época moderna. O Pontífice, por meio da encíclica intitulada Dilexit nos (Ele amou-nos), pede que mudemos o nosso olhar, perspetiva e objetivo, recuperando o que é mais importante e necessário: o coração.
O anúncio do Papa
«Carta encíclica sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo» é o subtítulo do documento, cujo texto é inteiramente dedicado ao culto do Sagrado Coração de Jesus. O Santo Padre já o tinha anunciado durante a audiência geral na praça São Pedro a 5 de junho (mês tradicionalmente dedicado ao Sagrado Coração de Jesus), compartilhando o desejo de que o texto faça meditar sobre os aspetos «do amor do Senhor que possam iluminar o caminho do renovamento eclesial; e também que possam dizer algo significativo a um mundo que parece ter perdido o coração». Francisco explicou ainda que o documento reúne «as preciosas reflexões de textos magisteriais anteriores e de uma longa história que remonta às Sagradas Escrituras, para repropor hoje, a toda a Igreja, este culto repleto de beleza espiritual».
As aparições em 1673
A encíclica é publicada durante as celebrações — que vão de 27 de dezembro de 2023 a 27 de junho de 2025 — do 350º aniversário da primeira manifestação do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, em 1673. Há três séculos e meio, em 27 de dezembro, Jesus apareceu à jovem religiosa visitandina francesa, com apenas 26 anos, para lhe confiar a missão decisiva de difundir no mundo o amor de Jesus pelos homens, especialmente pelos pecadores. As aparições no convento de Paray-le-Monial, na Borgonha, continuaram por 17 anos, com o Coração de Jesus que se manifestava sobre um trono de chamas, circundado por uma coroa de espinhos, símbolo das feridas infligidas pelos pecados dos homens. Cristo pediu à irmã Margarida que a sexta-feira após a festa de Corpus Christi — portanto, oito dias depois — fosse dedicada à Festa do Sagrado Coração de Jesus. Uma missão difícil para a religiosa, que encontrou incompreensões até entre as irmãs e superiores, sendo considerada uma visionária. Ela, porém, nunca desanimou e dedicou toda a sua vida para que o mundo conhecesse o amor de Cristo.
A difusão da devoção
A festa do Sagrado Coração nasceu às portas do Iluminismo. Como escreveu o padre Enrico Cattaneo, professor emérito de Patrística, na revista “La Civiltà Cattolica”, «a espiritualidade do Coração de Cristo foi um contrapeso à mentalidade racionalista difundida, que alimentava a cultura ateísta e anticlerical». Um debate acalorado, inclusive dentro da própria Igreja, surgiu em torno desta devoção, até que, em 1856, Pio ix decidiu que a festa do Sagrado Coração de Jesus fosse alargada a toda a Igreja. No século xix , a devoção espalhou-se rapidamente com consagrações, nascimento de congregações masculinas e femininas, instituições de universidades, oratórios e capelas.
A «Haurietis aquas» de Pio xii
Em 1956, foi publicada a Haurietis aquas de Pio xii , escrita num momento em que a devoção ao Coração de Jesus vivia uma crise. A encíclica do Papa Pacelli tinha o objetivo de reviver o culto e convidar a Igreja a compreender melhor e realizar as suas várias formas de devoção, de «máxima utilidade» para as necessidades da Igreja, mas também como «estandarte de salvação» para o mundo moderno. Bento xvi , numa carta por ocasião do 50º aniversário da Haurietis aquas, destacava: «Este mistério do amor de Deus por nós não constitui apenas o conteúdo do culto e da devoção ao Coração de Jesus: ele é, da mesma forma, o conteúdo de toda a verdadeira espiritualidade e devoção cristã. É, portanto, importante ressaltar que o fundamento desta devoção é tão antigo quanto o próprio cristianismo».
“IETIS AQUAS” DO SUMO PONTÍFICE, PAPA PIO XII — SOBRE O CULTO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS1
A devoção de Francisco
O Papa Francisco sempre demonstrou profundo vínculo ao Sagrado Coração, relacionando-o à própria missão dos sacerdotes. Em 2016, o encerramento do Jubileu dos sacerdotes ocorreu justamente na solenidade do Coração de Jesus, e na homilia da missa o Pontífice pediu aos sacerdotes do mundo que orientem o seu coração, como o Bom Pastor, rumo à ovelha perdida, àquele que está mais distante, deslocando o epicentro do coração para fora de si mesmos. Ainda no contexto do Jubileu, na primeira das Meditações sobre a misericórdia, o Papa recomendou aos bispos e sacerdotes que releiam a Haurietis aquas, pois «o Coração de Cristo é o centro da misericórdia. Isto é próprio da misericórdia, que se suja, toca, se envolve, quer comprometer-se com o outro… empenha-se com uma pessoa, com a sua ferida».2
Escrito por: Salvatore Cernuzio (25 ottobre 2024, L'Osservatore Romano 00120 Cidade do Vaticano. All rights reserved).
CARTA ENCÍCLICA “DILEXIT NOS”
DO SANTO PADRE FRANCISCO
SOBRE O AMOR HUMANO E DIVINO DO CORAÇÃO DE JESUS
1. «Amou-nos», diz São Paulo referindo-se a Cristo (Rm 8, 37), para nos ajudar a descobrir que nada «será capaz de separar-nos» desse amor (Rm 8, 39). Paulo afirmava-o com firme certeza, porque o próprio Cristo tinha garantido aos seus discípulos: «Eu vos amei» (Jo 15, 9.12). Disse também: «Chamei-vos amigos» (Jo 15, 15). O seu coração aberto precede-nos e espera-nos incondicionalmente, sem exigir qualquer pré-requisito para nos amar e oferecer a sua amizade: Ele amou-nos primeiro (cf. 1 Jo 4, 10). Graças a Jesus, «conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16).
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CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DO CORAÇÃO
2. Para exprimir o amor de Jesus Cristo, recorre-se frequentemente ao símbolo do coração. Há quem se interrogue se isto atualmente tenha um significado válido. Porém, é necessário recuperar a importância do coração quando nos assalta a tentação da superficialidade, de viver apressadamente sem saber bem para quê, de nos tornarmos consumistas insaciáveis e escravos na engrenagem de um mercado que não se interessa pelo sentido da nossa existência.3
O que entendemos quando dizemos “coração”?
3. No grego clássico profano, o termo kardía designa a parte mais íntima dos seres humanos, dos animais e das plantas. Em Homero, indica não só o centro corpóreo, mas também a alma e o centro espiritual do ser humano. Na Ilíada, o pensamento e o sentimento pertencem ao coração e estão muito próximos um do outro [Cf. Homero, Ilíada, canto XXI, verso 441]. O coração aparece como o centro do desejo e o lugar onde são forjadas as decisões importantes duma pessoa [Cf. Ibid., canto X, verso 244]. Em Platão, o coração assume, de certa forma, uma função “sintetizante” do que é racional e das tendências de cada pessoa, uma vez que tanto o comando das faculdades superiores como as paixões se transmitem através das veias que convergem no coração [Cf. Timeu, § 65c-d; § 70]. Assim, desde a antiguidade advertimos a importância de considerar o ser humano não como uma soma de diferentes capacidades, mas como um complexo anímico-corpóreo com um centro unificador que dá a tudo o que a pessoa experimenta um substrato de sentido e orientação.
4. A Bíblia diz que «a Palavra de Deus é viva, eficaz [...] e discerne os sentimentos e as intenções do coração» (Heb 4, 12). Deste modo, fala-nos de um núcleo, o coração, que se esconde por detrás de todas as aparências, e até mesmo de pensamentos superficiais que nos confundem. Os discípulos de Emaús, na sua misteriosa caminhada com Cristo ressuscitado, viviam um momento de angústia, confusão, desespero, desilusão. Mas, para além disso e apesar de tudo, acontecia algo no seu íntimo: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho?» (Lc 24, 32).
5. O coração é igualmente o lugar da sinceridade, onde não se pode enganar ou dissimular. Costuma indicar as verdadeiras intenções, o que se pensa, se acredita e se quer realmente, os “segredos” que não se contam a ninguém, em suma, a verdade nua e crua de cada um. O que não é aparência ou mentira, mas autêntico, real, inteiramente “pessoal”. É por isso que Sansão, que não havia revelado a Dalila o segredo da sua força, foi interpelado por ela deste modo: «Como podes dizer “Amo-te”, se o teu coração não está comigo?» (Jz 16, 15). Só quando lhe revelou o seu segredo tão escondido é que ela «viu que ele lhe abrira todo o coração» (Jz 16, 18).
6. Frequentemente, esta verdade íntima de cada pessoa está escondida debaixo de muita superficialidade, o que torna difícil o autoconhecimento e ainda mais difícil conhecer o outro: «Nada mais enganador que o coração, tantas vezes perverso: quem o pode conhecer?» (Jr 17, 9). Compreendemos assim porque é que o livro dos Provérbios nos exorta: «Vela com todo o cuidado sobre o teu coração, porque dele jorram as fontes da vida. Preserva-te da linguagem enganosa, afasta de ti a maledicência» (Pr 4, 23-24). A mera aparência, a dissimulação e o engano danificam e pervertem o coração. Para além das muitas tentativas de mostrar ou exprimir o que não somos, é no coração que se decide tudo: ali não conta o que mostramos exteriormente ou o que ocultamos, ali conta o que somos. E esta é a base de qualquer projeto sólido para a nossa vida, porque nada que valha a pena pode ser construído sem o coração. As aparências e as mentiras só trazem vazio.
7. Como metáfora, quero recordar algo que já contei em outra ocasião: «Recordo que no carnaval, quando éramos crianças, a avó nos preparava doces, e a que ela fazia era uma massa muito fina. Depois colocava-a no azeite e aquela massa crescia e quando nós a comíamos, estava vazia. Aqueles doces em dialeto chamavam-se “mentirinhas”. E era precisamente a avó quem explicava a razão: aqueles doces “são como as mentiras, parecem grandes, mas dentro não têm nada, não há nada verdadeiro, não há substância alguma”».4
8. Em vez de procurar uma satisfação superficial e de representar um papel diante dos outros, é melhor deixar que surjam perguntas decisivas: quem realmente sou? O que procuro? Que sentido quero dar à vida, às minhas escolhas e ações? Por que razão e para que fim estou neste mundo? Como vou querer avaliar a minha existência quando ela terminar? Que sentido quero dar a tudo o que vivo? Quem quero ser perante os outros? Quem sou diante de Deus? Estas perguntas conduzem-me ao meu coração.
Regressar ao coração
9. Neste mundo líquido, é necessário voltar a falar do coração; indicar onde cada pessoa, de qualquer classe e condição, faz a própria síntese; onde os seres concretos encontram a fonte e a raiz de todas as suas outras potências, convicções, paixões e escolhas. Movemo-nos, porém, em sociedades de consumidores em série, preocupados só com o agora e dominados pelos ritmos e ruídos da tecnologia, sem muita paciência para os processos que a interioridade exige. Na sociedade atual, o ser humano «corre o perigo de se desorientar do centro de si mesmo».5 «O homem contemporâneo encontra-se com frequência transtornado, dividido, quase privado de um princípio interior que crie unidade e harmonia no seu ser e no seu agir. Modelos de comportamento infelizmente bastante difundidos, exaltam a sua dimensão racional-tecnológica, ou, ao contrário, a instintiva» [7]. Falta o coração.
10. Ora, o problema da sociedade líquida é atual, mas a desvalorização do centro íntimo do homem – o coração – vem de mais longe: encontramo-la já no racionalismo grego e pré-cristão, no idealismo pós-cristão ou no materialismo nas suas diversas formas. O coração teve pouco espaço na antropologia e é uma noção estranha ao grande pensamento filosófico. Preferiram-se outros conceitos, como a razão, a vontade ou a liberdade. O seu significado permanece impreciso e não lhe foi atribuído um lugar específico na vida humana. Talvez porque não fosse fácil colocá-lo entre as ideias “claras e distintas” ou porque o conhecimento de si mesmo supõe dificuldade: parece que a realidade mais íntima é também a mais afastada do nosso conhecimento. Talvez porque o encontro com o outro não se consolida como caminho para nos encontrarmos a nós próprios, já que o pensamento conduz, uma vez mais, a um individualismo doentio. Muitos, para construir os seus sistemas de pensamento, sentiram-se seguros no âmbito mais controlável da inteligência e da vontade. E, ao não se encontrar um lugar para o coração, como algo distinto das faculdades e das paixões humanas consideradas separadamente, também não se desenvolveu suficientemente a ideia de um centro pessoal, em que a única realidade que pode unificar tudo é, em última análise, o amor.
11. Ao não se dar o devido valor ao coração, desvaloriza-se também o que significa falar a partir do coração, agir com o coração, amadurecer e curar o coração. Quando não se consideram as especificidades do coração, perdemos as respostas que a inteligência por si só não pode dar, perdemos o encontro com os outros, perdemos a poesia. E perdemos a história e as nossas histórias, porque a verdadeira aventura pessoal é aquela que se constrói a partir do coração. No fim da vida, só isto contará.
12. É preciso afirmar que temos um coração e que o nosso coração coexiste com outros corações que o ajudam a ser um “tu”. Como não podemos desenvolver longamente este tema, recorreremos ao personagem chamado Stavroguine, de um romance de Dostoievski [Os Demónios (1872)]. Romano Guardini aponta-o como a própria encarnação do mal, porque a sua principal caraterística é não possuir coração: «Stavroguine, porém, não possui coração. O seu espírito é, portanto, frio e vazio e o seu corpo intoxica-se de indolência e sensualidade “animalesca”. Não pode ir até junto dos outros homens nem estes podem chegar na realidade até ele. Porque é o coração que origina a proximidade; é pelo coração que me encontro junto dos outros e os outros estão igualmente junto de mim. Só o coração pode acolher, dar refúgio. A interioridade é o ato e esfera do coração. Stavroguine, porém, encontra-se longe, […] muito afastado também de si mesmo. O homem está em intimidade com o seu íntimo no coração, não no espírito. Estar em intimidade com o íntimo, no espírito, não é do domínio humano. Mas quando o coração não vive, o homem encontra-se ao lado de si mesmo» [Romano Guardini, O mundo religioso de Dostoievski (Lisboa 1973), 232].
13. É necessário que todas as ações sejam colocadas sob o “controle político” do coração, que a agressividade e os desejos obsessivos sejam acalmados no bem maior que o coração lhes oferece e na força que ele tem contra os males; que a inteligência e a vontade sejam também postas ao seu serviço, sentindo e saboreando as verdades em vez de as querer dominar, como algumas ciências tendem a fazer; que a vontade deseje o bem maior que o coração conhece, e que a imaginação e os sentimentos se deixem também moderar pelo bater do coração.
14. Em última análise, poder-se-ia dizer que eu sou o meu coração, porque é ele que me distingue, que me molda na minha identidade espiritual e que me põe em comunhão com as outras pessoas. O algoritmo que atua no mundo digital mostra que os nossos pensamentos e as decisões da nossa vontade são muito mais “standard” do que pensávamos. São facilmente previsíveis e manipuláveis. Não é o caso do coração.
15. Trata-se de uma palavra importante para a filosofia e a teologia, que procuram alcançar uma síntese integral. Na verdade, a palavra “coração” não pode ser explicada plenamente pela biologia, pela psicologia, pela antropologia ou por qualquer outra ciência. É uma daquelas palavras originais que «significam realidades que dizem respeito ao homem no seu conjunto enquanto pessoa corpóreo-espiritual» [Karl Rahner, “Einige Thesen zur Theologie der Herz-Jesu-Verehrung”. in: Schriften zur Theologie III (Einsiedeln 1956), 392]. Assim, o biólogo não é mais realista quando fala do coração, porque vê apenas um aspecto dele e o todo não é menos real, pelo contrário, é-o ainda mais. Tampouco uma linguagem abstrata poderia ter o mesmo significado concreto e, simultaneamente, integrador. Se o “coração” leva ao mais íntimo da nossa pessoa, permite também que nos reconheçamos na nossa integralidade e não apenas num mero aspecto isolado.
16. Por outro lado, este poder único do coração ajuda-nos a compreender porque é que se diz que quando apreendemos uma realidade com o coração podemos conhecê-la melhor e mais plenamente. Isto conduz-nos inevitavelmente ao amor de que esse coração é capaz, porque «o mais íntimo da realidade é amor» [11]. Para Heidegger, segundo a interpretação de um pensador contemporâneo, a filosofia não começa com um conceito puro ou uma certeza, mas com uma comoção: «O pensamento deve ser comovido antes de trabalhar com conceitos, ou enquanto trabalha com eles. Sem a comoção, o pensamento não pode começar. A primeira imagem mental seria a pele arrepiada. É a comoção que primeiramente dá o que pensar e perguntar. A filosofia ocorre sempre numa tonalidade afetiva fundamental ( Stimmung)» [Han Byung-Chul, O Coração de Heidegger. Sobre o conceito de tonalidade afetiva em Martin Heidegger (Petrópolis 2023), 93-94]. E é aqui que surge o coração, que «guarda as tonalidades afetivas fundamentais, […] trabalha como “guardião da tonalidade afetiva fundamental”. O “coração” ouve não-metaforicamente a “voz silenciosa” do ser ao se deixar afinar e determinar por ela» [13].
O coração que une os fragmentos
17. Ao mesmo tempo, o coração torna possível qualquer vínculo autêntico, porque uma relação que não é construída com o coração não pode ultrapassar a fragmentação do individualismo. Restariam apenas duas mónadas que se justapõem, mas não se ligam verdadeiramente. Uma sociedade cada vez mais dominada pelo narcisismo e pela autorreferencialidade é uma sociedade “anti-coração”. E, por fim, chega-se à “perda do desejo”, porque o outro desaparece do horizonte e nos fechamos no nosso egoísmo, sem capacidade para relações saudáveis [Idem, Agonia do Eros, (Petrópolis 2017)]. Como resultado, tornamo-nos incapazes de acolher Deus. Como diria Heidegger, para receber o divino é preciso construir uma «casa de hóspedes» [cf. Martin Heidegger, Explicações da Poesia de Hölderlin (Brasília 2013), 136].
18. Vemos assim como no coração de cada pessoa se produz esta ligação paradoxal entre a valorização do próprio ser e a abertura aos outros, entre o encontro muito pessoal consigo mesmo e o dom de si aos outros. Só nos tornamos nós próprios quando adquirimos a capacidade de reconhecer o outro, e só encontra o outro quem é capaz de reconhecer e aceitar a própria identidade.
19. O coração é também capaz de unificar e harmonizar a própria história pessoal, que parece fragmentada em mil pedaços, mas na qual tudo pode adquirir sentido. É isso que o Evangelho exprime no olhar de Maria, que olhava com o coração. Ela foi capaz de dialogar com as experiências que conservava, meditando-as no seu coração, dando-lhes tempo: simbolizando-as e guardando-as no seu interior para as recordar. No Evangelho, a melhor expressão do que pensa o coração é oferecida por duas passagens de São Lucas que nos dizem que Maria “guardava (synetérei) todas estas coisas, ponderando-as (symbállousa) no seu coração” (cf. Lc 2, 19.51). O verbo symbállein (do qual provem a palavra “símbolo”) significa ponderar, unir duas coisas na mente, examinar-se, refletir, dialogar consigo mesmo. Em Lc 2, 51, dietérei é “conservava com cuidado”, e o que ela guardava não era apenas “a cena” que via, mas também o que ainda não compreendia, conservando-o presente e vivo, na esperança de unir tudo no seu coração.
20. Na era da inteligência artificial, não podemos esquecer que a poesia e o amor são necessários para salvar o humano. O que nenhum algoritmo conseguirá abarcar é, por exemplo, aquele momento de infância que se recorda com ternura e que continua a acontecer em todos os cantos do planeta, mesmo com o passar dos anos. Penso na utilização do garfo para selar as bordas daquelas empadas caseiras que preparávamos com as nossas mães ou avós. É aquele momento de aprendizagem culinária, a meio caminho entre a brincadeira e a idade adulta, em que assumimos a responsabilidade do trabalho para ajudar o outro. Tal como o exemplo do garfo, poderia citar milhares de pequenos pormenores que sustentam a biografia de cada um: sorrir com uma piada, fazer um desenho em contraluz numa janela, jogar o primeiro jogo de futebol com uma “bola de trapos”, cuidar de lagartas numa caixa de sapatos, secar uma flor entre as páginas de um livro, cuidar de um pássaro que caiu do ninho, formular um desejo ao despetalar uma margarida. Todos estes pequenos pormenores, o ordinário-extraordinário, nunca poderão estar entre os algoritmos. Porque o garfo, as piadas, a janela, a bola, a caixa de sapatos, o livro, o pássaro, a flor… são sustentados pela ternura preservada nas memórias do coração.
21. Este núcleo de cada ser humano, o seu centro mais íntimo, não é o núcleo da alma, mas da pessoa inteira na sua identidade única, que é alma e corpo. Tudo está unificado no coração, que pode ser a sede do amor com todas as suas componentes espirituais, psíquicas e também físicas. Em última análise, se aí reina o amor, a pessoa realiza a sua identidade de forma plena e luminosa, porque cada ser humano é criado sobretudo para o amor; é feito nas suas fibras mais profundas para amar e ser amado.
22. É por esta razão que, assistindo a sucessivas novas guerras, com a cumplicidade, a tolerância ou a indiferença de outros Países, ou com simples lutas de poder em torno de interesses de parte, podemos pensar que a sociedade mundial está a perder o seu coração. Basta olhar e ouvir – nos diferentes lados do confronto – as idosas que são prisioneiras destes conflitos devastadores. É desolador vê-las chorar os netos assassinados, ou escutá-las desejar a própria morte por terem perdido a casa onde sempre viveram. Elas, que muitas vezes foram modelos de força e resiliência ao longo de vidas difíceis e sacrificadas, chegam à última fase da sua existência e não recebem uma merecida paz, mas sim angústia, medo e indignação. Descarregar a culpa nos outros não resolve este drama vergonhoso. Ver as avós a chorar sem que isso se torne intolerável é sinal de um mundo sem coração.
23. Quando alguém reflete, procura ou medita sobre o próprio ser e a sua identidade, ou analisa questões mais elevadas; quando pensa no sentido da própria vida e até mesmo procura a Deus, e ainda quando sente o gosto de ter vislumbrado algo da verdade; todas estas reflexões exigem que se encontre o seu ponto culminante no amor. Amando, a pessoa sente que sabe porquê e para que vive. Assim, tudo converge para um estado de conexão e de harmonia. Por isso, diante do próprio mistério pessoal, talvez a pergunta mais decisiva que se possa fazer seja esta: tenho coração?
O fogo
24. Isto comporta consequências para a espiritualidade. Por exemplo, a teologia dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola tem como princípio o affectus. O discurso é construído sobre uma vontade fundamental – com toda a força do coração – que dá energia e recursos à tarefa de reorganizar a vida. As regras e as composições de lugar que Inácio põe em prática funcionam sobre um “fundamento” que é diferente delas: o desconhecido do coração. Michel de Certeau mostra como as ‘moções’ de que fala Santo Inácio são as irrupções de uma vontade de Deus e de uma vontade do próprio coração que permanece diversa em relação à ordem manifesta. Algo de inesperado começa a falar no coração da pessoa, algo que surge do incognoscível, que abala a superfície do conhecido e se lhe opõe. É a origem de um novo “ordenamento da vida” a partir do coração. Não se trata de discursos racionais que devem ser postos em prática, passando-os para a vida, de modo a que a afetividade e a prática fossem simplesmente as consequências – dependentes – de um conhecimento adquirido [Cf. Michel de Certeau, L’espace du désir ou le «fondement» des Exercices spirituels. in: Christus 77 (1973), 118-128].
25. Onde o filósofo detém o seu pensamento, o coração fiel ama, adora, pede perdão e oferece-se para servir no lugar que o Senhor, à escolha, lhe dá para O seguir. Então percebe que é o “tu” de Deus e que pode ser um “eu” porque Deus é um “tu” para ele. Na realidade, somente o Senhor se dispõe a tratar-nos sempre – e para sempre – como um “tu”. Aceitar a sua amizade é uma questão de coração e constitui-nos como pessoas no sentido pleno da palavra.
26. São Boaventura dizia que, no final, se deve perguntar «não à luz, mas ao fogo» [Itinerarium mentis in Deum, VII, 6.]. E ensinava que «a fé está no intelecto, de tal modo que provoca o afeto. Por exemplo: saber que Cristo morreu por nós não permanece (somente) conhecimento, mas torna-se necessariamente afeto, amor» [Proemium in I Sent., q. 3]. Nessa linha, São John Henry Newman tomou como lema a frase “Cor ad cor loquitur”, porque, além de toda dialética, o Senhor salva-nos falando ao nosso coração a partir de seu Sagrado Coração. Seguindo ele, grande pensador, esta mesma lógica fazia com que o lugar do encontro mais profundo consigo mesmo e com o Senhor não fosse a leitura ou a reflexão, mas o diálogo orante, de coração a coração, com Cristo vivo e presente. É por isso que Newman encontrava na Eucaristia o Coração de Jesus Cristo vivo, capaz de libertar, de dar sentido a cada momento e de derramar a verdadeira paz sobre o ser humano:
«Ó Coração Sacratíssimo e Amorosíssimo de Jesus, estás escondido na Sagrada Eucaristia, e continuas a bater por nós […]. Eu te adoro, então, com todo o meu melhor amor e temor, com meu carinho fervoroso, com a minha vontade mais conquistada e resolvida. Ó meu Deus, quando tu te rebaixas a sofrer para (que eu possa) receber-te, para comer e beber a Ti, e Tu por um tempo fazes a tua morada dentro de mim, ó faça meu coração bater com o teu Coração. Purifica-o de tudo o que é terreno, de tudo o que é orgulhoso e sensual, tudo o que é duro e cruel, de toda a perversidade, de toda a desordem, de todo amortecimento. Então, encha-o de Ti, que nem os acontecimentos do dia, nem as circunstâncias do tempo possam ter o poder de perturbá-lo, mas que em teu amor e temor possa ter paz» [S. John Henry Newman, Meditações e Devoções (São Paulo, 2016), 283].
27. Perante o Coração de Jesus vivo e atual, o nosso intelecto, iluminado pelo Espírito, compreende as palavras de Jesus. Assim, a nossa vontade põe-se em ação para as praticar. Mas isso poderia permanecer como uma forma de moralismo autossuficiente. Ouvir, saborear e honrar o Senhor pertence ao coração. Só o coração é capaz de colocar as outras faculdades e paixões e toda a nossa pessoa numa atitude de reverência e obediência amorosa ao Senhor.
O mundo pode mudar a partir do coração
28. Só a partir do coração é que as nossas comunidades serão capazes de unir e pacificar os diferentes intelectos e vontades, para que o Espírito nos possa guiar como uma rede de irmãos, porque a pacificação é também uma tarefa do coração. O Coração de Cristo é êxtase, é saída, é dom, é encontro. N’Ele tornamo-nos capazes de nos relacionarmos uns com os outros de forma saudável e feliz, e de construir neste mundo o Reino de amor e de justiça. O nosso coração unido ao de Cristo é capaz deste milagre social.
29. Levar o coração a sério tem consequências sociais. Como ensina o Concílio Vaticano II, «temos, com efeito, de reformar o nosso coração, com os olhos postos no mundo inteiro e naquelas tarefas que podemos realizar juntos para o progresso da humanidade» [Const. past. Gaudium et spes, 82]. Porque «os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração do homem» [21]. Perante os dramas do mundo, o Concílio convida-nos a regressar ao coração, explicando que o ser humano «pela sua interioridade, transcende o universo das coisas: tal é o conhecimento profundo que ele alcança quando reentra no seu interior, onde Deus, que perscruta os corações (cf. 1 Sm 16, 7; Jr 17, 10), o espera, e onde ele, sob o olhar do Senhor, decide da própria sorte» [22].
30. Isto não significa confiar demasiado em nós próprios. Sejamos cautelosos: tenhamos consciência de que o nosso coração não é autossuficiente; é frágil e ferido. Tem dignidade ontológica, mas ao mesmo tempo deve procurar uma vida mais digna [Cf. Dicastério para a Doutrina da Fé, Declaração Dignitas Infinita (2 de abril de 2024), 8]. O Concílio Vaticano II também diz que «o fermento evangélico despertou e desperta no coração humano uma irreprimível exigência de dignidade» [Const. past. Gaudium et spes, 26] ainda que não baste apenas conhecer o Evangelho, ou fazer mecanicamente o que ele nos manda, para viver de acordo com esta dignidade. Precisamos da ajuda do amor divino. Recorramos, pois, ao Coração de Cristo, o centro do seu ser, que é uma fornalha ardente de amor divino e humano, a mais alta plenitude que a humanidade pode atingir. É aí, nesse Coração, que finalmente nos reconhecemos e aprendemos a amar.
31. Por último, esse Coração Sagrado é o princípio unificador da realidade, porque «Cristo é o coração do mundo; a sua Páscoa de morte e ressurreição é o cerne da história que, graças a Ele, é história da salvação» [S. João Paulo II, Alocução do Angelus (28 de junho de 1998): L’Osservatore Romano (ed. semanal em português de 4 de julho de 1998), 1]. Todas as criaturas avançam «juntamente conosco e através de nós, para a meta comum, que é Deus, numa plenitude transcendente onde Cristo ressuscitado tudo abraça e ilumina» [Francisco, Carta enc. Laudato si’ (24 de maio de 2015), 83: AAS 107 (2015), 880]. Diante do Coração de Cristo, peço mais uma vez ao Senhor que tenha compaixão desta terra ferida, que Ele quis habitar como um de nós. Que derrame os tesouros da sua luz e do seu amor, para que o nosso mundo, que sobrevive entre guerras, desequilíbrios socioeconómicos, consumismo e o uso anti-humano da tecnologia, recupere o que é mais importante e necessário: o coração.
OU
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/20241024-enciclica-dilexit-nos.pdf
CONCLUSÃO
217. O que está expresso neste documento permite-nos descobrir que o que está escrito nas encíclicas sociais Laudato si’ e Fratelli tutti não é alheio ao nosso encontro com o amor de Jesus Cristo, pois bebendo desse amor tornamo-nos capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum.
218. Hoje tudo se compra e se paga, e parece que o próprio sentido da dignidade depende das coisas que se podem obter com o poder do dinheiro. Somos instigados a acumular, a consumir e a distrairmo-nos, aprisionados por um sistema degradante que não nos permite olhar para além das nossas necessidades imediatas e mesquinhas. O amor de Cristo está fora desta engrenagem perversa e só Ele pode libertar-nos desta febre onde já não há lugar para o amor gratuito. Ele é capaz de dar coração a esta terra e reinventar o amor lá onde pensamos que a capacidade de amar esteja morta para sempre.
219. A Igreja também precisa dele, para não substituir o amor de Cristo por estruturas ultrapassadas, obsessões de outros tempos, adoração da própria mentalidade, fanatismos de todo o género que acabam por ocupar o lugar daquele amor gratuito de Deus que liberta, vivifica, alegra o coração e alimenta as comunidades. Da ferida do lado de Cristo continua a correr aquele rio que nunca se esgota, que não passa, que se oferece sempre de novo a quem quer amar. Só o seu amor tornará possível uma nova humanidade.
220. Peço ao Senhor Jesus Cristo que, para todos nós, do seu Coração santo brotem rios de água viva para curar as feridas que nos infligimos, para reforçar a nossa capacidade de amar e servir, para nos impulsionar a fim de aprendermos a caminhar juntos em direção a um mundo justo, solidário e fraterno. Isto até que, com alegria, celebremos unidos o banquete do Reino celeste. Aí estará Cristo ressuscitado, harmonizando todas as nossas diferenças com a luz que brota incessantemente do seu Coração aberto. Bendito seja!6
Dado em Roma, junto de São Pedro, a 24 de outubro do ano 2024, décimo segundo do meu Pontificado.
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1. ENGLISH: “ENCYCLICAL LETTER, “DILEXIT NOS” OF THE HOLY FATHERFRANCIS ON THE HUMAN AND DIVINE LOVE OF THE HEART OF JESUS CHRIST”
- https://www.vatican.va/content/francesco/en/encyclicals/documents/20241024-enciclica-dilexit-nos.html
- PDF: https://www.cbcew.org.uk/wp-content/uploads/sites/3/2024/10/Dilexit-Nos-ENG.pdf
- LITANY TO THE SACRED HEART OF JESUS: https://newsletter.sistersofcarmel.com/wp-content/uploads/2022/06/litany_of_the_sacred_heart.pdf
- SUPPLEMENT: Cardinal Collins Pastoral Letter from 2021 on the Sacred Heart of Jesus can be read here:
https://www.archtoronto.org/siteassets/media/archdiocese-of-toronto-main-site/files/sacred-heart-of-jesus/sacred-heart-pastoral-letter.pdf
AUDIO READING IN ENGLISH: CHAPTER 1, CLICK THE PODCAST BELOW
2. FRANÇAIS: LETTRE ENCYCLIQUE “DILEXIT NOS” DU SAINT-PÈRE FRANÇOIS SUR L’AMOUR HUMAIN ET DIVIN DU CŒUR DE JÉSUS-CHRIST
- https://www.vatican.va/content/francesco/fr/encyclicals/documents/20241024-enciclica-dilexit-nos.html
3. ITALIANO: LETTERA ENCICLICA “DILEXIT NOS” DEL SANTO PADRE FRANCESCO SULL’AMORE UMANO E DIVINO DEL CUORE DI GESÙ CRISTO
- https://www.vatican.va/content/francesco/it/encyclicals/documents/20241024-enciclica-dilexit-nos.html
4. DEUTSCH: ENZYKLIKA “DILEXIT NOS” DES HEILIGEN VATERS FRANZISKUSÜBER DIE MENSCHLICHE UND GÖTTLICHE LIEBE DES HERZENS JESU CHRIST
- https://www.vatican.va/content/francesco/de/encyclicals/documents/20241024-enciclica-dilexit-nos.html
NOTA DE RODAPÉ
Cont:
“Quarta encíclica do pontificado
Dilexit nos, como dissemos, é a quarta encíclica de Francisco, após Lumen fidei (29 de junho de 2013), escrita “a quatro mãos” com Bento xvi ; Laudato si’ (24 de maio de 2015), sobre a crise ambiental e a necessidade de cuidar da Criação; e Fratelli tutti (3 de outubro de 2020), que resume os apelos e mensagens do Papa sobre a urgência da fraternidade e da amizade social num mundo naquela época fragmentado pela pandemia da Covid-19, e hoje por guerras fratricidas e conflitos travados até em nome de Deus. Dilexit nos foi apresentada na Sala de Imprensa do Vaticana em 24 de outubro por D. Bruno Forte, teólogo, arcebispo de Chieti-Vasto, e pela irmã Antonella Fraccaro, responsável-geral das Discípulas do Evangelho.”
O texto que se segue é um artigo republicado para "Fins exclusivos para uso educativo e de estudo" (24 de outubro de 2024):
https://www.osservatoreromano.va/pt/news/2024-10/por-043/dilexit-nos0.html
Uma boa parte das reflexões deste primeiro capítulo estão inspiradas nos escritos inéditos do Pe. Diego Fares, S.I. Que o Senhor o tenha na Sua Santa Glória!
Homilia na Missa matutina de Santa Marta (14 de outubro de 2016): L’Osservatore Romano (ed. semanal em português de 20 de outubro de 2016), 7.
S. João Paulo II, Alocução do Angelus (2 de julho de 2000): L’Osservatore Romano (ed. semanal em português de 8 de julho de 2000), 1.
Algumas notas de rodapé incorporadas no primeiro capítulo são incorporadas pelo TDSHP para ajudar as mentes jovens (e aquelas que são novas na leitura de uma encíclica pela primeira vez) a desenvolver uma abordagem voltada para a pesquisa da teologia e referências intertextuais em um texto acadêmico.
Veja o PDF original para as demais notas finais no texto anotado em português. Existem links incorporados para ajudar a encorajar uma leitura mais aprofundada dos textos primários que o Papa Francisco cita neste documento.
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/20241024-enciclica-dilexit-nos.pdf